O "Boiadeiro australiano"
Em
algumas viagens visitando criações de gado Jersey gaúcho, tive contato com
agropecuaristas acompanhados de cães "Boiadeiros Australianos (Australian Cattle
Dog – ACD)". Não posso dizer tê-los achado “bonitos” mas, reconheço, lembraram-me muito aos lindos e eficientes "Border Collies".
Caroline Bertagnolli, em Passo Fundo, com Sorro (seu ACD) - junho de 2012 |
Cão
pertencente ao Grupo 1, Seção 2 (cães pastores e boiadeiros, exceto boiadeiros
suiços), tem origem australizano havendo dúvidas
sobre as raças envolvidas na sua formação devido ao grande número de tentativas
e combinações feitas até o resultado final. É provável que seu início tenha ocorrido durante a migração britânica pois, no ambiente totalmente novo que era o
deserto australiano, os colonizadores
necessitavam de um cão adaptado àquelas condições.
Várias tentativas foram
feitas com animais nativos e ingleses, os ingleses levando seus cães de
trabalho para a Austrália tentando aproveitar as raças que possuíam grande
habilidade no pastoreio nas ilhas britânicas, ambiente totalmente diferente.
Estes primeiros cães eram conhecidos como "Smithfields", nome do mercado central
de carnes em Londres, genericamente descritos como sendo pesados, pretos, com
orelhas caídas e pelagem longa. Apesar de serem excelentes pastores em sua
terra natal, não conseguiram a mesma performance nas novas terras,
especialmente porque a pelagem densa e longa aliada ao calor australiano
dificultava sua atuação no trabalho com o gado.
Docilidade à tôda prova, garante a veterinária Caroline |
Diante da dificuldade de adaptação desses cães, os
fazendeiros locais iniciaram os acasalamentos entre as raças inglesas e as
nativas da Austrália, conhecidos como "Dingos". Mas o resultado não foi o
esperado, apesar dos produtos obtidos serem realmente silenciosos, pois eram
pouco confiáveis, com freqüência mostrando-se muito agressivos atrapalhando o manejo
do gado. A tentativa seguinte foi a cobertura dos "Dingos" com "Collies", o resultado não agradando completamente porque a grande maioria dos cães latia em
excesso, o que também prejudicava a condução dos rebanhos.
Mas o objetivo acabou sendo atingido: um cão de pastoreio eficiente e rústico, com
grande habilidade na condução do gado, em silêncio, e que se deitava no chão a fim de evitar que a
boiada saísse da trilha desejada.
Graças aos esforços de Mr. Thomas Hall of Muswelbrook, por trinta anos
aperfeiçoador da raça descrita pela primeira vez em 1902, em 1840 importando
um casal de "Blue Smooth Highland Collies", muito parecidos com os "Border Collies" ou "Bearded Collies" atuais. Estes cães, descritos como cães de coloração blue
merle, foram acasalados com os "Dingos" nativos obtendo-se filhotes merle ou
vermelhos que ficaram conhecidos como "Hall's Heelers".
O trabalho deste pioneiro foi evoluindo até sua morte, em 1870, e seu cães passaram a ser conhecidos como "Blue Heelers" ou "Queensland Heelers". Deram frutos para o desenvolvimento da raça e, incluindo alguns acasalamentos com "Bull Terrier" para aumentar a tenacidade dos cães, e outros com "Dálmatas", chegamos ao ano de 1902, quando Robert Kaleski escreveu o primeiro padrão da raça, baseando-se para isso no tipo físico dos dingos australianos, que acreditava serem os mais bem adaptados ao trabalho na região.
Os principais registros foram feitos por Robert
Kaleski, apaixonado pela raça ainda na adolescência, dedicando-se ao seu estudo
e desenvolvimento por toda sua vida. Apesar disso, há grande controvérsia sobre
quais as raças que teriam contribuído para o definitivo Australian Cattle Dog -
ACD.
A empresária Bertagnolli diz que é excelente para o manejo de suas Jersey, prof.Bruno Kneib escutando, na famosa Cabanha Butiá |
A raça só foi reconhecida pelo American Kennel Club, no grupo "Miscelaneous", no final da década de 60 e, graças aos esforços dos criadores, em 1980 sendo finalmente reconhecida plenamente. No Brasil, sua entrada é mais recente, com poucos registros e criadores oficiais.
Mas veio
para ficar!!
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